no silencio das linguas cansadas

20060213

que cedo entardeceu

As velas do Mucuripe
Vão sair para pescar
Vou levar as minhas mágoas
Pra águas fundas do mar
Hoje à noite namorar
Sem ter medo de saudade
Sem vontade de casar
Calça nova de riscado
Paletó de linho branco
Que até o mês passado
Lá no campo 'inda era flor
Sob o meu chapéu quebrado
O sorriso ingênuo e franco
De um rapaz novo encantado
Com vinte anos de amor
Aquela estrela é dela
Vida, vento, vela leva-me daqui


elis regina, mucuripe

20060202

para que. paraguai.

ha coisas que nao se dizem. que se guardam. escondidas. ca dentro. em nos. no fundo de nos. ha coisas que as outras pessoas fazem. que magoam. os actos. de afecto. mais que as nao palavras. mais que o de nao dizer. ha pessoas que preferem fingir as coisas que aconteceram. ha coisas que e preferivel ficarem fechadas. a sete chaves. no mundo que e nosso. que foi o nosso durante os tempos. que nao voltara a existir. porque tudo o que foge a normalidade magoa. tudo o que nao pode ser enquadrado. e implica uma mudanca nas relacoes. na forma de ver os outros. doi. tudo o que nao pode ser metido. enfiado. no saco da amizade. cria uma confusao demasiado grande para om que seja idada de forma simples. e as conversas vao sendo adiadas. ate que nao valha a pena. dizer que os momentos magicos acontecem. aconteciam. e simplicidade. e uma palavra que ha muito nao uso para descrever as minhas relacoes. ha coisas exteriores. que nos afectam o pensamento. e a forma de agir. ha pessoas. que nos rodeiam. e acham que nos conehcem. e fingem que nos aceitem. sem mudar quem nos somos. tal e qual. que vao deixando a saua marca. a sua influencia. porque somos todos feitos de influencias. e de cores. que nos vao engolindo. ate que a nossa bolha. sem que nos apercebamos. nem sabermos porque. vai mudando a cor. aos poucos. deixando de ter a cor que e nossa. deixando de ser a nosa bolha. aos poucos. transformando se numa bolha de outro. ha coisas que ficam guardadas. no passado dos momentos. escondidas. que nao devem ser trazidas para fora. quando se remexe na caixinha dos sonhos. [as fotos sao para serem guardadas bem fundo esquecidas. entre outras. ate a cor desbota. e nao passarem de lembrancas deturpadas pelo tempo.] ha coisas que o medo guarda. e tapa. e mexe. interpretando o que se passa a sua forma. unica. de fingir que nada e. que nada foi. de fugir a dor. ha coisas guardadas dentro de nos. ha muito tempo. que tudo deturpou. que mudou. s sorrisos. e os olhares. as conversas e os sentires. ha coisas que quando livres para crescerem. se deixam atrofiar. pelos outros. [e por nos.] e mudam. ate ao que nunca foi.