no silencio das linguas cansadas

20050508

umas passas a beira mar

Disseram-me um dia Rita põe-te em guardaaviso-te, a vida é dura põe-te em guardacerra os dois punhos e andou põe-te em guardaeu disse adeus à desditae lancei mãos à aventurae ainda aqui está quem falou
Galguei caminhos de ferro (põe-te em guarda)palmilhei ruas à fome (põe-te em guarda)dormi em bancos à chuva (põe-te em guarda)e a solidão não errese ao chamá-la o seu nomeme vai que nem uma luva
Andei com homens de faca (põe-te em guarda)vivi com homens safados (põe-te em guarda)morei com homens de briga (põe-te em guarda)uns acabaram de macae outros ainda mais deitadoso coveiro que o diga
O coveiro que o digaquantas vezes se apoiou na enxadae o coração que o contequantas vezes já bateu pra nada
E um dia de tanto andar (põe-te em guarda)eu vi-me exausta e exangue (põe-te em guarda)entre um berço e um caixão (põe-te em guarda)mas quem tratou de me amarsoube estancar o meu sanguee soube erguer-me do chão
Veio a fama e veio a glória (põe-te em guarda)passaram-me de ombro em ombro (põe-te em guarda)encheram-me de flores o quarto (põe-te em guarda)mas é sempre a mesma históriadepois do primeiro assombrologo o corpo fica farto
O coveiro que o digaquantas vezes se apoiou na enxadae o coração que o contequantas vezes já bateu pra nada



sergo godinho, balada da rita


nao me facas sonhar com o que ja foi. nao me pecas para percorrer os passos que ja esqueci. deixa o passado descansar. ficar no seu canto. morrer. e ser esquecido.