momentos de ver com os olhos fechados
" ... abre a porta antes de ela bater. Veste o roupão negro da noite. Ficam ali onde estão. Ele pega na pasta dela, atira-a para o chão. Despe-a e deita-a no chão ao lado dele. Depois espera. Espera. Mais ainda. Diz muito baixo:
- Espera.
Entra na noite negra do corpo da criança. Fica. Geme de um desejo louco, imóvel, diz muito baixo:
- Outra vez... espera...
Ela torna-se o objecto dele, por ele, apenas, secretamente prostituída. Deixou de ter nome. Entregou-se como coisa, uma coisa por ele roubada. E só por ele possuída, utilizada, penetrada. Uma coisa de repente desconhecida, uma criança sem outra identidade a não ser essa de lhe pertencer a ele, de ser apenas propriedade dele, sem nenhuma palavra para dizer isso, fundida nele, diluída numa generalidade que ao surgir é sempre igual, e que desde o princípio dos tempos se nomeia erradamente com outra palavra, a palavra indignidade. "
marguerite duras, o amante da china do norte
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